segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"Pais"

Os “pais” que cito na verdade não são os meus pais biológicos, são meus tios maternos.
Eles receberam  a minha guarda em 1988 quando vim de MG para SP com a minha tia Eleuza. Meus pais? Meus pais partiram para cumprir sua missão em outro tempo, em outro lugar. Minha mãe morreu 08 dias após o meu nascimento, alguns familiares dizem que ela tinha um problema de coração, acho que ninguém sabe de forma concreta o que aconteceu, na certidão de óbito a causa é indeterminada, meu pai faleceu em Janeiro de 2004 de trombose venosa, após passar anos em dependência do álcool. Tenho dois irmãos biológicos, o Fred (32 anos) que mora no Pará e o Rodrigo (30 anos) que mora aqui em SP com a tia Eleuza, e tenho mais três “irmãos/primos”, o Betinho, o Alex e o Danilo, só homens!
Em 2005 ingressei no meu primeiro estágio para trabalhar em uma equipe grande, e sabia que iriam surgir muitas perguntas sobre a minha família, explicar essa balaio de gato não é fácil, primeiro porque a minha família destoa do conceito tradicional de família: pai, mãe e irmãos, no meu caso são tios, primos e primas, fora isso tem as pessoas que ficam penalizadas e não falam mais no assunto, vira um tabu. Toda a explicação acontece porque eu os chamo de Tio Armando e Tia Delza, e também tem a Tia Eleuza responsável pelos meus cuidados até a minha vinda pra SP, na verdade até hoje ela não parou de cuidar de mim e dos meus irmãos, eles são os meus “pais”. Pensando em resolver essa questão, resolvi mudar o discurso e a partir daquele momento eles seriam chamados de “pais”. E assim aconteceu uma mudança muito significativa, não só em vocabulário, acredito que esse pequeno gesto estreitou laços e aqueceu os nossos corações. Eu ainda os chamo de tios, mas a definição trouxe aceitação, reforçou o amor e os laços que nos unem.
Entender toda essa bagunçada estrutura familiar não foi fácil! Tivemos lá os nossos momentos conturbados, de desespero, de descrença, e eu tive meus muitos momentos de dúvidas e questionamentos, acho que ainda os tenhos..rs Um fato é certo, não foi fácil pra ninguém, pra família que se desfez, pra família que acolheu, pra pessoa que se doou, muitos planos desfeitos, sonhos interrompidos e pessoas que tiveram suas vidas transformadas a partir do dia 18/04/1984. Hoje o cenário é outro, crianças crescidas e criadas, e todos tocando a vida de forma vitoriosa, fica um sentimento de gratidão a todos que contribuíram com o nosso cuidado, com a nossa educação, sem dúvidas todas essas pessoas foram fundamentais para nos proporcionar um crescer digno.
A alguns anos venho trabalhando essa questão familiar, então achei que o assunto estava superado, até ter que alugar o tal vestido.
Começaram semanas difíceis....e foi ai que comecei a compreender que o meu “bloqueio” não era o número do meu manequim, não era a dificuldade de achar um vestido, que não era a grana curta e o preço alto. A dificuldade é a lembrança, a saudade, a vontade de ter a minha mãe comigo e compartilhar esse momento. E ai está a questão mais doida que tenho que lidar. Saudade de que? Eu não tive tempo de conhece-la, de conviver com ela, não sei o cheiro do seu perfume, sua voz nunca ouvi. Saudade do que? Saudade do que não vi, do amor que não senti, do abraço perdido, do colo vazio, simplesmente saudade..........Uma saudade que enlouquece, adoece e dói, uma saudade que faz parar! E exatamente nesse ponto que estou, parada! Porque penso que ela ficaria feliz em estar presente nesse momento, penso que seria lindo e emocionante dividir com ela essa alegria. Tudo isso faz parte de um imaginário, porque talvez se ela estivesse aqui nada fosse desse jeito, mas nem essa possibilidade afasta o meu querer e a saudade que trago comigo.
Semanas melhores chegaram, dividir com as amigas foi um passo importante, ter a compreensão e o respeito do André, mesmo sem poder entender o porque de tanta saudade foi fundamental. As emoções estão a flor da pele, meu desejo e minhas orações estão em ter um coração calmo para que eu esteja em paz, feliz e serena ao cruzar o caminho até o altar. Demorei mais de três dias para fazer esse post, e por mais incrível que seja, finalizo ele hoje com um sentimento de gratidão e  um amor enorme, por ela Maria de Lourdes Pereira que me guia com sua luz, pelos meus “pais” e minha tia Eleuza, pelos meus irmãos, primos e primas, pela família do André, que me acolheu, e que cuida de mim desde o primeiro momento que estivemos juntos, aos meus poucos e fiéis amigos. Um amor ainda maior por Deus, que em meu momento de angústia e desespero por não entender as coisas do mundo, cuidou da minha ferida, me deu forças para continuar a caminha, minha eterna gratidão pelo seu amor infinito e cuidado diário.

                                             Tio Armando, eu, Tia Delza, André e Tia Eleuza
                                                           Lurdinha como era chamada

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